sábado, 24 de julho de 2010

Inovação e Educação (II)

Anualmente a escola internacional de negócios – Insead, realiza um estudo sobre a capacidade de inovação dos países, e como resultado gera um relatório chamado Global Innovation Index Report, - http://www.globalinnovationindex.org/gii/main/home.cfm. Em sua edição de 2010 este estudo aponta a Islândia, Suécia e Hong Kong to topo da lista. O Brasil ocupa a 68º posição, caindo 18 posições em comparação com sua classificação em 50º lugar de 2009. Os Estados Unidos estavam no topo da lista no ano anterior, e caíram para 11º lugar, principalmente devido a desinvestimentos em processos de inovação, em várias dimensões, provavelmente causados pelo agravamento da crise naquele país.

Este estudo abrange 132 países e considera 60 indicadores para medir o nível de inovação dos mesmos, como a quantidade de patentes por habitantes, investimentos em P&D, investimentos em educação, artigos científicos publicados, ambiente regulatório, acesso a crédito, quantidade de usuários de banda larga, tempo médio para abertura de negócios no país, entre outros.

Estes indicadores estão organizados e divididos em grupos que foram denominados “pilares”. Um destes pilares, chamado Capacidade Humana, agrupa três sub-pilares que podem ser tratados com políticas distintas e de forma independente pelos países sendo eles, Investimento em Educação, Qualidade das Instituições Educacionais e Potencial de Inovação. Os itens em cada um destes sub-pilares são o nível de investimento em educação (% do PIB), a extensão da população e trabalhadores educados e treinados, o nível de qualidade do sistema educacional, a qualidade dos institutos de pesquisa, a quantidade de pesquisadores (% da população), a disponibilidade de cientistas e engenheiros, entre outros.

Importante observar neste relatório a posição de destaque de determinados países, que historicamente se preocupam em investir, de forma consistente e com qualidade, nos itens destacados acima, refletindo de forma importante em seus sistemas de educação e no ambiente de pesquisas e desenvolvimento. Desta forma pode-se perceber uma relação próxima entre educação, produção acadêmica, e desenvolvimento de pesquisas, com a capacidade inovadora de um país.

Os países líderes do ranking Islândia, Suécia, Dinamarca e Finlândia, também lideram no item Capacidade Humana, sendo a Finlândia a primeira colocada, seguida pela Dinamarca, Suécia, Islândia.

A figura 1 a seguir apresenta o ranking dos países líderes em inovação em comparação com o ranking de um dos pilares da pesquisa, relacionado ao Capital Humano dos países.




Conforme a Figura 1, o país que se encontra em primeiro lugar de Inovação no ranking, a Islândia, é classificada em quarto lugar no item Capital Humano, e o segundo colocado em Inovação, a Suécia, está na terceira posição em Capital Humano. Tomando-se este país especificamente a fim de pontuar um exemplo, verifica-se que o mesmo promove políticas contundentes para alavancar seu Capital Humano, como a delegação de parte da responsabilidade em promover a inovação para seu Ministério da Educação e Cultura, e o estabelecimento de uma agência específica para coordenar as políticas para inovação (Vinnova). Estas iniciativas fazem seu ambiente de P&D muito forte onde indústrias, universidades e institutos de pesquisa se beneficiam de forma ampla.

Através dos dados deste estudo pode-se verificar a importância do investimento no Capital Humano como uma das alavancas dos processos de inovação dos países. São estratégias de longo prazo com investimentos significativos e de qualidade no sistema educacional, e na evolução das competências de pesquisa de forma geral, que ajudam a fomentar e ampliar o ambiente de inovação, e consequentemente criam condições favoráveis para o crescimento econômico além dos patamares de estabilização apresentados no artigo Crescimento Econômico e Inovação.

domingo, 4 de julho de 2010

Inovação e Educação (I)

As inovações, e a inovação disruptiva em particular, são variáveis muito importantes para o crescimento orgânico de uma empresa. Através da inovação a empresa pode estabelecer novos patamares de atuação no seu mercado, rompendo as barreiras quando a empresa se encontra no seu período de estagnação, após período de crescimento. Este comportamento foi abordado com detalhes no artigo anterior – Crescimento Econômico e Inovação.

Neste artigo a importância da educação e seus processos tradicionais e criativos, são analisados como fatores relevantes que conduzem o processo de inovação ao sucesso.

A inovação incremental, ou seja, aquela que é obtida da evolução de um produto ou serviço existente, pode ser obtida através de um trabalho árduo de pesquisa e desenvolvimento. Entretanto a abordagem de um problema estaria ligada à sua solução de forma cartesiana, e a base educacional para o desenvolvimento deste processo é tradicional, oriunda de um saber convergente. Sendo assim o problema é analisado de forma lógica onde as soluções possíveis são filtradas para que a mais apropriada seja executada, ou seja, há convergência para uma única solução final escolhida entre um leque de opções.



Esta educação tradicional está baseada nos processos mais comumente utilizados pelas instituições de ensino contemporâneas como o método de ensino em sala de aula, as pesquisas e trabalhos sugeridos pelos professores, as provas e avaliações aplicadas, entre outras.

Por outro lado, a inovação disruptiva, que lança um modelo de negócio, produto, serviço ou processo realmente distinto daqueles oferecidos, e que pode alcançar desta forma um público não consumidor, overshot ou undershot (ver artigos anteriores), levando a empresa ao crescimento, através da desestabilização do seu mercado, necessita de um perfil de pensamento distinto do tradicional. Este perfil se enquadra na chamada educação criativa, onde o saber agora não é convergente, mas divergente. No lugar da análise tradicional do problema para alcançar uma única solução, conforme descrito acima, a nova forma de análise deve considerar várias dimensões, através da exposição de ideias, possibilidades, interpretações, e hipóteses. Neste novo cenário os processos de aprendizado que as instituições educacionais utilizam devem ser distintos, sendo eles brainstorms, workshops, seminários e trabalhos colaborativos, e elementos de co-criação. Somente assim as empresas poderão se beneficiar de mentes abertas às diversas possibilidades que podem ser captadas de elementos internos à empresa, como suas capacidades, forças e fraquezas, e externos à ela como regulamentações, competidores, produtos substitutos, novas tecnologias, tendência do mercado consumidor, entre outras.



Sendo assim, um aspecto muito importante que deve ser destacado é que as inovações bem sucedidas necessitam das duas dimensões de educação, a tradicional e a criativa. Percebe-se que uma ideia brilhante obtida através de processos criativos pode não ser viável sob alguns pontos como financeiro, produtivo, entre outros, e não solucionar um problema de forma definitiva. Em contrapartida, uma grande ideia que seja uma boa solução executável pode não ser inovadora, não levando ao salto de crescimento desejado para a empresa.

A educação para a inovação, contemplando as duas dimensões citadas resultará em uma grande probabilidade de se obter a visão de futuro mais adequada, possibilitando no final a escolha dos melhores projetos a serem desenvolvidos pelas empresas.